Poucas pessoas percebem, ao longo de suas vidas, qual é a maior de todas as riquezas que possuímos. O cinema também tem trabalhado muito pouco o tema, priorizando muito mais as desgraças e desventuras que a felicidade e as realizações. É por isso que “A Felicidade Não Se Compra”, filme de 1946, realizado por Frank Capra (um dos maiores cineastas de todos os tempos), se eternizou na memória de muitos apreciadores da sétima arte e também daqueles que de forma incessante buscam uma vida mais pródiga e feliz.
James Stewart e Donna Reed protagonizam uma história que muitos de nós gostaríamos de viver. Não, nem tudo são rosas. Há turbulências, desvios, erros e problemas como na vida de qualquer um de nós. O fundamental, porém, é que impera a humanidade nas relações entre as pessoas em detrimento de interesses pessoais mesquinhos. A ambição, que costuma envenenar ambientes familiares ou profissionais, dá espaço para relações mais fraternas e solidárias a partir da ação de pessoas comuns, como eu ou você.
E o mais impressionante para muitos é perceber que o verdadeiro “amor ao próximo” não precisa de embalagens vistosas para deslumbrar. Essa forma poderosa de ação pode ser efetivada a partir das ações que desempenhamos em nosso cotidiano. Adicionar um pouco de esperança e otimismo ao dia a dia de cada um de nós pode representar muito para as pessoas que se sentam ao lado na mesa do jantar ou no escritório em que trabalhamos.
Já ouvi muitas pessoas dizerem que reconhecem uma pessoa pelo semblante, pelas linhas que marcam seu rosto. Concordo com elas. Sou capaz de perceber quando meus filhos, esposa, amigos ou mesmo alunos e colegas de trabalho não estão vivendo um bom momento apenas pela expressão de seus rostos. Garanto que muitas pessoas que estão lendo esse artigo também podem fazer isso.
A alegria, a capacidade de superação, a fé e a valorização da vida e de tudo aquilo que somos e representamos para outras pessoas tem que ser a tônica de nossas vidas. Uma das mais poderosas lições do filme “A Felicidade Não Se Compra” reside justamente na idéia de nossa importância pessoal, ou seja, de como nossa existência pode afetar de modo positivo a vida de outras pessoas.
É claro que não somos anjos, nem mesmo de 2ª classe (quem assistir o filme entenderá essa colocação). Somos seres humanos, de carne e osso, fadados a errar (e com os erros também podemos e devemos aprender) e, do mesmo modo, destinados a acertar tantas outras vezes. O importante é que queiramos sempre fazer o melhor, dividir com as outras pessoas aquilo que podemos dar que represente nossos sentimentos mais puros e genuínos de humanidade, justamente a solidariedade, a compaixão, a fraternidade, a paz e o amor...
Querido George: - Lembre-se nenhum homem é uma falha quando tem amigos. Obrigado pelas asas! Amor Clarence |
O Filme
Um sonho acompanha a trajetória do jovem George Bailey (James Stewart, um dos maiores ícones do cinema americano) desde seus anos de infância, viajar e conhecer o mundo para ajudar a melhorá-lo com grandes construções como pontes e edifícios. Sua vida, entretanto, marcada por inúmeros percalços não irá permitir que suas aspirações se concretizem. Desde cedo, quando ainda era menino, George consolida sua vida como a de uma pessoa que está por perto para ajudar ao próximo. Não de forma totalmente consciente do valor dessa participação fraterna e solidária. Desprovido de qualquer busca de valorização ou reconhecimento em função de suas ações, movido somente pelo bom coração que possui.
Por esse motivo, George é capaz de ajudar pessoas como seu primeiro patrão a não cometer um grave erro como farmacêutico manipulador de remédios ou ainda salvando a vida de seu irmão mais novo. Sua grandeza é realçada na defesa de pessoas pobres que com dificuldade tentam construir o grande sonho de suas humildes vidas, ter uma casa própria. Nesse sentido, apesar do desconforto dessa situação, George assume a firma de seu pai. É do pai, inclusive, que ele herda a noção de justiça e compaixão, abdicando dos lucros em favor de uma vida modesta desde que isso lhe garanta um sono dos mais tranqüilos.
Suas alegrias, apesar de alguns contratempos causados pela falta de dinheiro ou ainda pela deslealdade do homem mais rico da cidade, o senhor Potter (Lionel Barrymore), são ainda maiores a partir de seu casamento com a bela Mary (Donna Reed) e com o nascimento dos filhos. Nesse momento tudo parece caminhar para um final dos mais felizes. É quando o acaso resolve lhes pregar uma peça e faz com que o dinheiro que garantiria os saldos e o cumprimento dos contratos de sua firma simplesmente desaparece...
Acuado pelas dívidas e pela possibilidade de ser preso, George fica desesperado e pensa em tirar sua vida para resgatar um seguro de vida que poderia assegurar a sobrevivência de sua firma e o nome de sua família. O que fazer quando sua vida parece não ter valido a pena? E se eu não tivesse nem ao menos existido, tudo seria muito melhor, não seria? Será que a minha vida foi de alguma forma importante para alguém?
Partindo dessa premissa, a de que nossa existência é fundamental para o equilíbrio e para a felicidade de muitas outras vidas, que Frank Capra consolida um dos mais celebrados clássicos do cinema mundial. Imperdível!
A Felicidade Não Se Compra é um dos melhores filmes de todos os tempos. Dificilmente alguém não irá se emocionar com ele, um retrato filosófico a respeito da vida, de seus valores e do que realmente vale a pena em nossa existência.
É um filme que trata de princípios e sentimentos, uma obra prima que ficará marcada para sempre na história do cinema como um dos filmes mais emocionantes entre todos já realizados.
É um filme que trata de princípios e sentimentos, uma obra prima que ficará marcada para sempre na história do cinema como um dos filmes mais emocionantes entre todos já realizados.
A Felicidade Não Se Compra nos prende principalmente pela simplicidade de sua história, um rapaz cheio de sonhos, com a mente recheada de idéias e ideais, que, por mais que tente, não consegue se desprender de sua cidade natal. Essa simplicidade é reforçada pelo excelente roteiro. É tudo tão ligado que você tem gosto de lembrar cenas que aconteceram anteriormente, e que pareciam ser desnecessárias para o desenvolvimento da história. Isso acontece quando o anjo desce à Terra e atende ao pedido de George de nunca ter nascido. Ao mesmo tempo em que ele reflete como seria a vida se ele não existisse, automaticamente o roteiro nos força a passar pelo mesmo pensamento, mas sem passar pela mesma situação. É um filme tão perfeito que é copiado até hoje pelos mais diversos filmes que tentam abordar os mesmos temas. Um ousado filme que não tem nada de ousado em suas doces cenas, e sim considerando sua ternura apenas um ano depois do mundo ter praticamente se acabado com a Segunda Guerra Mundial.
Com toda essa inocência terna e sincera, A Felicidade Não Se Compra é até hoje um dos mais belos filmes do mundo, pois trata de temas importantes de maneira tocante sem nunca parecer piegas ou infantil. Seus personagens perfeitos não caem na chatice ou na antipatia, e sim funcionam como exemplo de como uma boa pessoa pode ser. Em um mundo capitalista como era o de 1946, pós-crise de 1929 e o início da reconstrução após a Segunda Guerra, devíamos refletir em pleno século XXI sobre o que Frank Capra queria nos dizer naquele tempo sobre os verdadeiros valores da vida. Até hoje o filme é assistido, mas parece que ainda não aprendemos a lição.
Com toda essa inocência terna e sincera, A Felicidade Não Se Compra é até hoje um dos mais belos filmes do mundo, pois trata de temas importantes de maneira tocante sem nunca parecer piegas ou infantil. Seus personagens perfeitos não caem na chatice ou na antipatia, e sim funcionam como exemplo de como uma boa pessoa pode ser. Em um mundo capitalista como era o de 1946, pós-crise de 1929 e o início da reconstrução após a Segunda Guerra, devíamos refletir em pleno século XXI sobre o que Frank Capra queria nos dizer naquele tempo sobre os verdadeiros valores da vida. Até hoje o filme é assistido, mas parece que ainda não aprendemos a lição.
Pais e Professores:
• Como fazer isso? Incorpore a sua prática profissional o hábito de estimular leituras que relatem momentos e realizações solidárias, mesmo que isso signifique “sacrificar” alguns momentos por semana ou quinzena. Aproxime esses temas de suas aulas. Quantifique se for em exatas, compare com a história, forneça como temática para projetos, utilize como tema para redações ou leitura de clássicos. Essas ações serão lembradas para sempre por seus alunos e, se devidamente trabalhadas, irão se incorporar a suas vidas, a seu cotidiano.
• Que tal trabalhar o mote principal do filme com seus alunos, ou seja, realizar uma atividade de reflexão em torno da questão central que é: como seria o mundo se você não estivesse por aqui? Para isso é necessário que os estudantes vejam o filme e depois discutam em sala as repercussões da existência pessoal sobre a instância coletiva. O que se pretende é que eles percebam que nossas atitudes e ações influenciam a vida de muitas e muitas pessoas. E que, a partir daí, revejam suas vidas para fazer com que de suas existências floresça a felicidade...
• O que acham de tentar criar um projeto solidário a partir da escola e consolidá-lo como uma prática regular na vida da cidade? Que tal estabelecer um projeto, de comum acordo com os outros professores e com a direção da escola, para que sejam feitas doações de alimentos, agasalhos, remédios ou mesmo de tempo e carinho para pessoas que realmente precisam muito disso?
Ficha Técnica
A Felicidade Não Se Compra (It's a Wonderful Life)
País/Ano de produção: EUA, 1946
Duração/Gênero: 129 min., Drama
Direção de Frank Capra
Roteiro de Frank Capra, Albert Hackett e Frances Goodrich
Elenco: James Stewart, Donna Reed, Lionel Barrymore, Thomas Mitchell, Henry Travers, Beulah Bondi, Frank Fayden, Ward Bond, Gloria Grahame.
Duração/Gênero: 129 min., Drama
Direção de Frank Capra
Roteiro de Frank Capra, Albert Hackett e Frances Goodrich
Elenco: James Stewart, Donna Reed, Lionel Barrymore, Thomas Mitchell, Henry Travers, Beulah Bondi, Frank Fayden, Ward Bond, Gloria Grahame.
João Luís de Almeida Machado Doutor em Educação pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Professor Universitário e Pesquisador; Autor do livro "Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema" (Editora Intersubjetiva)
Amado irmão Lilás,
ResponderExcluirObrigadASSU pelo lindo filme que me fizeste assistir!
Te amo...