“O estudo é a única herança eterna que poderão deixar para seus filhos…”



Mulher faceira, sempre elegante. Seu inseparável guarda sol, complementava um estilo originado na sua jovialidade, lá pelos anos dourados, época em que Etelvina, carinhosamente conhecida por Teté, conheceu, namorou e se casou com João Fonseca – de família tradicional do velho Assu. Homem culto, poeta de verve farta.
Determinada, inteligente. Muito jovem ainda, não pensou duas vezes quando foi convidada a ingressar no serviço público municipal, sabendo ela que naquele órgão, até aquela data, só tinha trabalhado homem. Durante décadas cumpriu suas funções com dedicação e zelo.
Suas atividades como servidora pública não a impediu de cultivar em seu lar a amabilidade e o afeto. Neste clima harmônico nasceram Edna Lúcia e Lúcio Flávio. Como todos os pais responsáveis, preocupados com os futuros de seus filhos, Etelvina e João Fonseca também procuraram educá-los num regime um tanto quanto austero, tendo o estudo como meta prioritária.
A poesia assuense emudeceu quando João Fonseca partiu. Dona Teté não se entregou aos desenganos. Empunhou sua “bandeira de destemida” e marchou à frente para criar sua prole com a mesma amabilidade.
Nunca esqueci a maneira desesperada que dona Teté nos recebeu (cerca de  cinco amigos) quando fomos deixar Lúcio Flávio em casa embriagado, resultado de uma confraternização do BANORTE – banco no qual éramos funcionários. Certamente se ela tivesse o poder de surrar um a um não teríamos saído ilesos de sua casa. No entanto, não escapamos de uma ríspida lição de moral. Foi aí o primeiro porre do roqueiro, lá pelos anos oitenta.
Lúcio Flávio, depois Edna lúcia, casaram…Procriaram. Teté, já com a idade avançada, mais uma vez estava na batalha dando palpites. Dizia: “… No meu tempo, menino era criado ouvindo e obedecendo aos pais…”. “O estudo é a única herança eterna que poderão deixar para seus filhos…”…
Certa vez recebi em minha sala, na Prefeitura, Dona Teté desejando falar com o então prefeito Ronaldo Soares, preocupada com o acervo bibliográfico de João Fonseca que estava se acabando. Ela não tinha como cuidar, dizia. Fui visitá-la e constatei que já era tarde, infelizmente… As traças não pouparam aquelas obras tão ricas e raras. Na oportunidade, ela me presenteou com algumas poesias manuscritas por João Fonseca e uns documentos históricos da década de cinquenta. Da destinação das obras danificadas não tive mais notícias.
Domingo, dia 12 de dezembro de 2010, véspera do dia de Santa Luzia, dona Etelvina Medeiros da Fonseca – Teté, faleceu. Deixou filhos, netos, nora, genro e uma infinidade de amigos conquistados ao longo dos seus 85* anos de simpatia, respeito para com seus semelhantes, amor e dedicação a sua família. Uma cidadã digna de se ‘tirar o chapéu’. Da minha insignificância, rogo ao Criador para que ela encontre a paz Celestial e seja feliz ao lado d’Ele.
Ivan Pinheiro
Especialista em história


*[ Dona Teté, completaria 85 anos apenas em 24 de Abril de 2011.]

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